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HELGA MOREIRA
( Portugal )
(Quadrazais, Guarda, 29 de Abril de 1950) é uma poetisa portuguesa formada em Física pela Universidade do Porto.
Publicou o primeiro livro em 1978. Os Dias Todos Assim (1996) colige poemas publicados até 1993. Tumulto, publicado em 2003, sinaliza uma viragem na sua poesia, afirmando as marcas identitárias. Colaborou no volume Vozes e Olhares no Feminino (2001), organizado por Isabel Pires de Lima. Aparece traduzida à língua inglesa no volume "Poem-ando Além-fronteiras: dez poetas contemporâneas irlandesas e portuguesas// Poem-ing Beyond Border: ten contemporary Irish and Portuguese women poets", organizado e traduzido por Gisele Wolkoff, Ed.Palimage: Coimbra, Portugal, 2011. Vive no Porto desde 1968.
- 1978 Cantos do Silêncio
- 1980 Fogo Suspenso
- 1983 Quem não vier do sul
- 1985 Aromas
- 1996 Os Dias Todos Assim
- 2001 Um Fio de Noite
- 2002 Desrazões
- 2003 Tumulto
- 2006 Agora que falamos de morrer
ANOITECE
Anoitece em inferno a minha casa.
Fico com este começo de verso
a serenar a exaltação de não dizer nada.
Deixem-me com este sorriso a morrer
por uma sílaba mais real onde um verso
me sossegue
com unhas de lama e sangue,
como garras.
Acontece em inferno a minha casa.
Fica a certeza de não ter fim o que
de inutilidades se basta,
ou apenas o instante em que,
por um verso, eu fui
à outra parte da casa.
( In: Os dias todos assim, 1996)
***
Ao rimar dor com pensamento
escrevo ternura, afecto,
apenas quem me conceda
um gesto, mínimo gesto
um poeta não se assassina
ia dizer mas disto não entendes
é a superfície que pretendes
da coisa leve, pequenina
Isto é lama, são entranhas, é lixo,
chama, horror, precipício
que consome, enaltece, aflige
em tom maior, menor, e a verdade
capriche. Que em verdade digo:
de aqui em diante — apenas sigo
( In: Tumulto, 2003)
Assim é, pois.
A tudo atreitos, emoções
ao alto, no peito
indiferentes tano, a tudo.
E a vida continua.
Isso que se desprende
em gesto e mais feitos.
Quaisquer outros — alguns —
muito pouco ou nada
que os demova
de um verso à flor da mão
e há quanto, há quanto
no pensamento.
( In: Tumulto, 2003)
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Página publicada em abril de 2022
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